Como tem vindo a ser da praxe, ao longo dos meus ternurentos 39 anos, a árvore de Natal é montada no dia um de Dezembro.
Dia verdadeiramente histórico não só porque o faço há 39 anos ou porque é feriado ou porque chegámos ao mês do Natal. Se fosse vivo o meu pai completaria 69 anos.
O dia de hoje estava sempre destinado a um almoço fora seguido da montagem da árvore de Natal. Ainda que a minha paciência não fosse muita lá estava o meu pai, cheio de pachorra, disposto a perder quase uma tarde toda naquilo. Ele, que nem por isso era uma pessoa muito dotada de paciência! Homem de poucas palavras, o meu pai tinha o dom do silêncio, muito dificilmente conquistava a empatia das minhas amigas. Punha- as todas a correr já que o lar era lugar de descanso.
E lá ia colocando as peças enquanto resmungava com a árvore.
Montou a sua última árvore de Natal há 5 anos, dia do seu aniversário, quando ainda nem imaginava que o iria fazer pela última vez...
Bolinhas douradas, decoradas com lacinhos vermelhos de veludo que ele mesmo fez, eram penduradas numa árvore verde, pequenininha, a condizer com a sala. Correntes douradas e vermelhas percorriam a árvore em substituição das antigas fitas pomposas. As luzinhas piscavam descompassadamente enquanto no topo brilhava uma estrela dourada.
O meu pai não era uma pessoa demostradora de afetos nem tinha jeito para isso. O seu semblante, quase sempre fechado, não o tornava pessoa de muitos amigos.
Tinha soluções engenhosas para tudo, jeito para o desenho e uma letra perfeita quase desenhada. Estou a anos luz de me aproximar da sua criatividade.
Calmo e sossegado não era amigo de sair de casa, a não ser para as suas voltas de bicicleta, paixão que perseguiu durante toda a sua vida.
Nunca me perguntava as notas, o que parece estranho... Mas a sua máxima era: "o que construires agora para ti será".
Este era o meu pai, o "pica" da Rodoviária, não havia quem não o conhecesse. Ainda hoje, para quem não me está a reconhecer sou a filha do Bento, o senhor das camionetas ou da bicicleta.
O dia um de Dezembro, para mim, não é só o primeiro dia do último mês do ano. É um marco, uma lenda que faço questão de manter até ao dia em que eu mesma construa a árvore mágica pela última vez...
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
A magia do 1 de Dezembro
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