terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Obrigada Dna Lúcia

Obrigada Dna Lúcia. 

Obrigada por ter sido uma amiga querida.  Boa pessoa, boa vizinha.

Obrigada por ser sempre bem humorada, bem resolvida,  bem vivida.

Obrigada pelo seu beijo caloroso quando o meu pai partiu. Obrigada pela preocupação,  pelo carinho.

Obrigada por animar aquela rua. Sempre bem disposta e de gargalhada fácil. 

Obrigada pela amizade que tinha com a minha mãe,  no seu momento mais sensível e quando ela realmente precisava. 

Obrigada por ser um exemplo. Quando for grande quero ser assim. Independente, bonita, e sempre ativa.

Terei saudades. Já tenho saudades... 
Ficará sempre no meu coração.  No mesmo lugar em que guardo as pessoas especiais. 

Obrigada

Nota: Esta foto foi tirada num dia em que obrigou a minha mãe a sair de casa. Sempre atenta sabia que lhe iria fazer bem. E fez.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Madonna, a Rainha das Rainhas

"Tinha acabado de chegar e não conhecia ninguém. Sentia-me muito triste e solitária. Nunca saía de casa. Até que um dia uma amiga colombiana insistiu para que eu saísse com ela à noite para conhecer uma casa de fados. Um espaço onde as pessoas não só cantavam, mas também conversavam num ambiente de amizade. Adorei, nos EUA não existe nada disto".

Isto é Lisboa, isto é fado,  isto é Madonna.

Tive o privilégio de estar presente no segundo de oito concertos que esta senhora de 61 anos dará em Lisboa.

Não podemos esperar a performance de outrora, mas a magia está toda lá. Neste, que foi o meu quarto concerto, senti-me nas nuvens. No passado, presenteava-nos com um concerto bastante teatral. Desta vez, e porque a idade já não é a mesma, dançou muito pouco, mas interagiu como nunca com o público.

Leiloou um polaroid, tirada no momento. Perguntou quem dava mais e... saltaram da carteira de um espetador 10 notas de 100€. Loucura ou não, o homem saiu extasiado do palco depois de comprar a foto e levar um aperto de mão da musa.

Ainda outro espetador teve direito a uma conversa de ocasião. Sentados em duas cadeiras trocaram palavras para delírio deste homem. Vestia a rigor um sutiã de cones que ela adorou.

Madonna abrilhantou o concerto com cultura cabo- verdiana. Dançarinas de batuco, de todas as idades, acompanharam a cantora em duas das suas músicas. Cantou o tema "sodade" da saudosa Cesária Évora, acompanhada de Dino d' Santiago. Sim, cantou crioulo! Agradeceu, mais de uma vez, o que aprendeu com aquele povo e o carinho que recebeu.

Muitos foram os momentos de apoteose. Aponto um que me tocou particularmente. Gaspar Varela, de 15 anos, bisneto da fadista Celeste Rodrigues e sobrinho-bisneto de Amália, acompanhou a cantora em algumas das suas músicas. Juntos fizeram delirar o Coliseu quando Madonna cantou o Fado Pechincha. Cantou fado, cantou Isabel de Oliveira,  cantou português!

Em tempos, tudo isto seria impensável.  Eu que fui ver o meu primeiro concerto a Barcelona por achar que ela nunca iria pisar o território português. Depois disto deu quatro concertos em Portugal e até morou em Lisboa!

Obrigada Madonna por levares um pouco da cultura portuguesa na turné Madame X pelas principais cidades dos EUA, por Londres e Paris.

És única,  és a Madame X.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Hachico, um cão muito especial...

O jantar de ontem,  num lugar fantástico,  teve o seu ponto alto num pormenor... o vinho servido, hachiko. Este tinto alentejano tem o nome de um dos cães mais famosos do mundo.

Hachiko, foi  um cão da raça akita, até hoje lembrado pela sua lealdade ao dono, e que perdurou mesmo após a morte deste.
Em 1924, Hidesaburo Ueno, um professor universitário, achou o cachorrinho junto à estação de comboios e adotou-o.

Hachiko acompanhava Ueno desde a porta de casa até à estação de comboios de Shibuya, no Japão,  e no fim do dia voltava para encontrá-lo. Esta amizade a todos encantava.

A vida feliz de Hachiko como

animal de estimação do professor Ueno foi interrompida apenas um ano e quatro meses depois. Ueno sofreu um AVC na universidade naquele dia e nunca mais voltou à estação onde sempre o esperara o seu fiel amigo.

Hachiko teve duas famílias adotivas mas fugia sempre para voltar à estação e esperar pelo retorno do seu amigo.

Todos os dias partia para a estação de Shibuya e esperava lá pelo Professor Ueno para voltar para casa. Em 1929, devido aos anos passados nas ruas, ele estava magro e com feridas provocadas por outros cães. Uma das suas orelhas estava partida e tinha uma aparência miserável, não parecia mais o cão de raça e robusto que já tinha sido uma vez.

Hachiko envelheceu, tornou-se muito fraco e sofria de dirofilariose, um verme que ataca o coração. Na madrugada de 8 de Março de 1935, com 11 anos, morreu numa rua lateral à estação de Shibuya. Durante quase 10 anos, esperou saudoso, o seu mestre.

Os seus ossos foram enterrados junto à  sepultura do professor, para que ele, finalmente, se reencontrasse com o seu dono.

Obrigada bela lição Hachiko.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

40 balas

40 balas!? Foi assim que um amigo me cumprimentou, hoje, pela manhã.

Socorro! Ele tem razão!  Estes 40 anos passaram à velocidade das balas! Colheita de 1977, está fácil de fazer a conta.

Trau!  E de repente 40! Esperem, preciso digerir! Mas como! ?

Infinitamente sonhadora, brinco, prego partidas, caio, pinto o cabelo de rosa, amuo, faço queixinhas à mamã, terei mesmo essa idade?  Deixa lá!  É só um número!

Não fossem as rugas, as dores nas costas, os cabelos brancos (que pintarei até que a voz me doa), ou a falta de um dente molar, eu jurava que tinha 20.

Vou é tirar partido desta idade maravilhosa. Serena, ainda com a energia da juventude, sem angústias nem dramas. Sinto-me charmosa,  sedutora e muito mais interessante!

Entrei na Era do ouro!  Para trás ficaram 40 anos de muitas experiências mas na frente ainda tenho uma parafernália de coisas para viver! Com a vantagem de que me sinto mais confiante e pouco preocupada com a opinião dos outros.

E como dizia Cícero: "Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons."

sábado, 1 de julho de 2017

Ter um blogue para quê?

Muitas vezes dou comigo surpreendida porque sou seguida no blogue por mais gente do que pensava. Além dos amigos, sou seguida por desconhecidos!  Dá para imaginar!? Já fui confrontada, inclusivamente,  por um desconhecido que me abordou dizendo que acabou de ler um artigo meu.
-Sério! ? E gostou?
-Estava muito interessante. 
Não sei se teve paciência para ler mais do que um, mas só o fato de se ter dado ao trabalho já me deixou satisfeita.
No fundo, escrevo como se só eu fosse ler,  acho que é isso que torna o blogue mais genuíno. Acaba por ser um desabafo sobre os acontecimentos que vivo.  Se não o fizer fico com a sensação de que vou rebentar!
Acho que todos deveriam ter um, ajuda a descomprimir.  Quer dizer, nem todos.  Pela quantidade de erros ortográficos que leio por "Facebooks" e afins, muitos deviam ter vergonha de dizerem que são portugueses.  Atenção que não falo dos que não tiveram oportunidade de estudar, refiro- me aos iluminados que estudaram até à faculdade e que reinventam a língua portuguesa.
No fundo, o blogue ajuda- me a não perder a dinâmica da escrita já que a licenciatura em Jornalismo faz parte do passado e até para ler um livro preciso de estar de férias.
Agora, criar um blog para ter sucesso e ganhar dinheiro!? Sinceramente, desconheço. Não criei o meu blog para isso. Não me vou armar em inocente: um blog com muitos leitores atrai coisas boas, mas se for uma multidão de seguidores, aí começa a atrair muitas coisas para a quais não tenho paciência.  Pretendo ficar pelo meio termo... Muitas vezes tenho de contar até 1000  para não mandar ninguém à fava. Tenho de ler alguns comentários idiotas de alguns que vêm para aqui destilar ódio e frustrações. Enfim, faz parte. ..
Mas quem disse que a vida era fácil! ? Difícil é saber viver!

domingo, 18 de junho de 2017

Queimou o meu coração

Prometi a mim mesma que o meu próximo desafio neste blogue seria escrever algo para rir e não para chorar. 
A vida trocou- me as voltas.  Mais do que a mim trocou as voltas à minha amiga do coração.
Entre as 62 vítimas das chamas de Pedrogão Grande estavam os pais da minha amiga. Aquela que é sempre a primeira a chegar quando alguém precisa dela.
E eu estou longe!  Longe da minha amiga, doce e delicada mas dura e corajosa.
Partiu hoje, cedo, à procura dos pais, mas a única coisa que encontrou foi uma chapa de matrícula queimada que confirmava as suas mortes.
Nesse momento a esperança dos pais estarem em segurança, em casa de algum desconhecido, caiu por terra. Não conseguia falar com os pais mas podia ser apenas um problema de rede!
Afinal o pesadelo confirmou- se. O mundo caiu. Agora já não pode correr para a mãe ou para o pai, para se sentir protegida, como fazemos todos, mesmo depois de adultos. A minha amiga já não vai correr. Perdeu o colo da mamã e já não vai ouvir mais as palavras sábias do pai.
Não foram apenas dois corpos que se foram mas sim todo o seu universo. Um mundo feito de carícias e ensinamentos que agora são recordações.
Tantas experiências vividas juntos que estremeceram de repente e se  transformam em saudade.
Um ciclo se cumpriu e agora é hora de dizer adeus...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A magia do 1 de Dezembro

Como tem vindo a ser da praxe, ao longo dos meus ternurentos 39 anos, a árvore de Natal é montada no dia um de Dezembro.
Dia verdadeiramente histórico não só porque o faço há 39 anos ou porque é feriado ou porque chegámos ao mês do Natal. Se fosse vivo o meu pai completaria 69 anos.
O dia de hoje estava sempre destinado a um almoço fora seguido da montagem da árvore de Natal.  Ainda que a minha paciência não fosse muita lá estava o meu pai, cheio de pachorra, disposto a perder quase uma tarde toda naquilo. Ele, que nem por isso era uma pessoa muito dotada de paciência! Homem de poucas palavras, o meu pai tinha o dom do silêncio, muito dificilmente conquistava a empatia das minhas amigas. Punha- as todas a correr já que o lar era lugar de descanso.
E lá ia colocando as peças enquanto resmungava com a árvore.
Montou a sua última árvore de Natal há 5 anos, dia do seu aniversário, quando ainda nem imaginava que o iria fazer pela última vez...
Bolinhas douradas, decoradas com lacinhos vermelhos de veludo que ele mesmo fez, eram penduradas numa árvore verde, pequenininha, a condizer com a sala. Correntes douradas e vermelhas percorriam a árvore em substituição das antigas fitas pomposas. As luzinhas piscavam descompassadamente enquanto no topo brilhava uma estrela dourada.
O meu pai não era uma pessoa demostradora de afetos nem tinha jeito para isso. O seu semblante, quase sempre fechado, não o tornava pessoa de muitos amigos.
Tinha soluções engenhosas para tudo, jeito para o desenho e uma letra perfeita quase desenhada. Estou a anos luz de me aproximar da sua criatividade.
Calmo e sossegado não era amigo de sair de casa, a não ser para as suas voltas de bicicleta, paixão que perseguiu durante toda a sua vida.
Nunca me perguntava as notas, o que parece estranho... Mas a sua máxima era: "o que construires agora para ti será".
Este era o meu pai, o "pica" da Rodoviária, não havia quem não o conhecesse. Ainda hoje, para quem não me está a reconhecer sou a filha do Bento, o senhor das camionetas ou da bicicleta.
O dia um de Dezembro, para mim, não é só o primeiro dia do último mês do ano. É um marco,  uma lenda que faço questão de manter até ao dia em que eu mesma construa a árvore mágica pela última vez...